quinta-feira, 17 de maio de 2012

Marius Petipa e o nascimento do Ballet Clássico - Parte II

Eis-me aqui com a segunda parte da matéria sobre o Ballet Clássico, desta vez mostrando a vocês uma pequena amostra da extensa galeria de trabalhos criados por Petipa. Com certeza ele foi um grande gênio, tanto que seu nome é associado às principais peças de repertório e muitas vezes, as pessoas acabam confundindo e o colocam como se ele fosse o único coreógrafo da época. É verdade sim que ele foi o principal, mas como diz o ditado popular: "Uma andorinha não faz verão sozinha"...

O Lago dos Cisnes
A peça foi composta originalmente entre 1875 e 1876 por Tchaikovsky, e teve sua estreia em 1877 com coreografia de Julius Reisinger. Entretanto, a primeira produção deixou muito a desejar, tanto na coreografia, como na interpretação dos bailarinos e da orquestra, e soma-se a isso a interferência da primeira-bailarina da estreia, que podia fazer o que bem quisesse com a partitura. Conclusão: a peça não foi bem sucedida!
Somente em 1895, dois anos após a morte do compositor, é que Petipa criou a versão que veio a se tornar a base das produções subsequentes. A coreografia foi criada em conjunto com seu assistente Lev Ivanov, e a extensa partitura de Tchaikovsky foi totalmente remanejada por Riccardo Drigo, que na época era o diretor musical do Teatro Mariinsky, onde ocorreu a estreia dessa montagem.
Sobre sua classificação, acredito que "O Lago dos Cisnes" pode também ser considerada uma peça romântica, pois a história contada, a música e a presença do Ato Branco são bem típicos desse período. Porém as características clássicas são muito marcantes, como o uso dos tutus clássicos e as complexas sequências coreográficas.

Coda - 2º Ato
Coreografia: Rudolf Nureyev
Com Margot Fonteyn e Rudolf Nureyev
Ópera de Viena, 1966

A Bela Adormecida
Foi a segunda peça composta por Tchaikovsky, sendo esse seu maior êxito no campo dos ballets, e teve sua estreia no ano de 1890. A grande parceria entre Petipa e o compositor culminou em uma das peças mais famosas de todo o repertório clássico, que colocam como principal fio condutor da história o embate entre as forças do bem, representada pela Fada Lilás, e do mal, representada por Carabosse.
Porém, quando se fala em contos de fada, é muito comum as pessoas acharem que sempre existe alguma relação com as versões da Disney. No caso da Bela Adormecida, a trilha sonora da versão animada faz sim um belo resumo da obra de Tchaikovsky, mas apesar de a história ser a mesma, cada versão a conta de maneiras diferentes. No ballet, por exemplo, o número de fadas madrinhas é maior em relação à Disney: são 6 na montagem original de Petipa, mas dependendo da versão pode ter até 7 ou 8 fadas.

Entrada e Adágio das Fadas Madrinhas - Prólogo
Coreografia: Rudolf Nureyev
Ópera de Paris, 2000

O Quebra-Nozes
Quando as pessoas lembram de grandes ballets como "O Quebra-Nozes", é natural que todo mundo atribua os créditos da coreografia a Marius Petipa. Porém, no caso dessa peça, as informações são bastante divergentes. Acredito que a teoria mais correta, segundo algumas pesquisas, é que Petipa tenha sido o responsável pela montagem do libreto, isso é, a ordem em que a história é contada no palco, e que a autoria da coreografia é de seu assistente Lev Ivanov. Apesar da música ter sido super elogiada e ter consagrado Tchaikovsky como o maior compositor romântico do século 19, a coreografia não fez tanto sucesso. Isso fez com que nos anos seguintes cada coreógrafo criasse a sua própria versão da obra, tornando-a muito conhecida como um clássico de Natal.

Valsa das Flores - 2º Ato 
Coreografia: Peter Wright
The Royal Ballet, 2009

Don Quixote
Várias foram as montagens que surgiram com base na obra de Cervantes, porém a que mais se popularizou e resiste até os dias de hoje foi a de Petipa, em parceria com o compositor Ludwig Minkus. A peça foi produzida em 4 atos e 8 cenas para sua primeira apresentação no Teatro Bolshoi de Moscou, em 1869 com grande sucesso. Dois anos depois, Petipa remontou a peça para o Ballet Imperial de St. Petersburg em uma versão ampliada com 5 atos e 11 cenas. As montagens atuais utilizam também partes coreografadas por Alexander Gorsky, que inseriu na obra músicas de outros autores, mas que sempre são creditadas a Minkus. É o caso da variação da Rainha das Dríades, composta originalmente por Anton Simon, e também duas variações de Kitri (da cena do Sonho e do Grand Pas de Deux final), ambas compostas por Riccardo Drigo.
O tema espanhol da peça permitiu que a história do fidalgo sonhador se entrelaçasse com o romance de Kitri e Basil, parte que tem maior ênfase na peça, colocando Don Quixote como um personagem secundário. Ainda assim, um dos capítulos mais importantes e conhecidos da obra de Cervantes tem presença marcada no ballet: a cena em que Don Quixote luta contra um moinho de vento, pensando ser um gigante.

Entrada de Kitri - 1º Ato
Com Tatyana Terekhova
The Kirov Ballet, 1988

Paquita
Eis aqui uma outra peça que causa bastante confusão no pessoal... Todo mundo costuma atribuir a autoria da música apenas a Ludwig Minkus, e da coreografia apenas a Petipa. Porém, Paquita é um ballet que tem suas origens no Romantismo, foi estreado em 1846 com coreografia original de Joseph Mazilier e música de Edouard Deldevez. Quando Marius remontou a peça na Russia no ano seguinte, ele adicionou novas coreografias com músicas compostas por Minkus: O Pas de Trois no primeiro ato, e a Mazurca das Crianças e o Grand Pas do Casamento de Paquita no segundo ato.
Só que durante o período revolucionário, era muito mais em conta para o governo russo produzir apresentações de gala do que repertórios completos. Em virtude disso, muitas peças acabaram se perdendo com o tempo, e Paquita, infelizmente, foi uma delas. Desse ballet restou apenas os números adicionais de Petipa/Minkus, que até hoje costumam ser remontados por várias companhias ao redor do mundo.
Graças as profundas pesquisas realizadas por Pierre Lacotte, que foi diretor artístico da Ópera de Paris, a versão original de Mazilier/Deldevez foi totalmente restaurada e unida as adições de Petipa/Minkus, sendo essa a única companhia que monta a versão completa da obra.

Variação de Paquita - 2º Ato
Versão Restaurada por Pierre Lacotte
Ópera de Paris, 2003

La Bayadère
A mística e exótica Índia serviu de inspiração para a criação do libreto de La Bayadère, que leva à cena vários aspectos dessa cultura milenar, muitas delas mostradas na novela "Caminho das Índias", como o Sistema de Castas, os casamentos arranjados, a crença no Fogo Sagrado como entidade espiritual suprema das tradições indianas e na chamada "Roda das Encarnações". A peça foi estreada em 1877 com partitura do compositor Ludwig Minkus, e foi um sucesso estrondoso!
Mas ainda assim, La Bayadère foi um dos muitos alvos da época revolucionária, e por muito tempo o 3º ato original, com a cena do casamento de Gamzatti, a destruição do templo e o reencontro de Solor e Nikiya do outro lado da vida, ficaram completamente perdidos. Por conta disso, muitas produções, como a do Kirov e da Ópera de Paris, terminam na cena do "Reino das Sombras".
Em 1980, a bailarina e coreógrafa Natalia Makarova criou uma nova coreografia para "La Bayadère" que reconstrói as cenas do 3º ato, sendo essa considerada uma das montagens mais importantes da atualidade.

Grand Pas de Deux de Solor e Gamzatti - 1º Ato
Coreografia: Natalia Makarova
The Royal Ballet, 2009

Raymonda
Após o grande sucesso de La Bayadère, Raymonda foi criada com o intuito de mesclar as culturas medieval e oriental. Por isso, decidiram ambientar a peça em meio à 5ª Cruzada, chefiada pelo rei André II da Hungria entre os anos de 1217 à 1221, onde uma mulher fosse amada por dois homens e o choques de culturas pudesse ser explorado ao máximo. Ao som da bela música de Aleksandr Glazunov, o libreto escrito por Lydia Pashkova não possui grandes emoções, e por isso mesmo não foi bem aceito por Petipa de início. Ainda assim, ele teve que trabalhar em cima do projeto original, criando belas sequências coreográficas, sendo uma das mais difíceis a variação de Raymonda do 3º ato.

Variação de Raymonda - 3º Ato
Versão Restaurada por Sergei Vikharev
Teatro Alla Scala, 2011

É claro que esses foram apenas alguns dos trabalhos mais importantes de Petipa, e que até hoje tem presença marcada em diversas companhias o redor do mundo...
Agora sim podemos seguir tranquilamente para o início do século XX, onde na próxima matéria sobre a história do ballet falaremos mais sobre o Ballet Russe de Sergei Dhiaghileff, que causou uma verdadeira revolução no campo das artes em geral, não somente da dança^^

Até a próxima pessoal!!!

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